Paul McCartney: o que o Beatle pode ensinar sobre music business?

Fotos do show em São Paulo por Stephanie Hahne.

Há uma semana Paul McCartney, o nosso Macca, completou seus 77 anos e isso mexeu com a Agência 1a1. Não tinha como ser diferente: qual será a visão de mercado da música de um dos caras que há mais tempo está na ativa nesse ramo? Não é qualquer um que pode ostentar ser ícone da cultura pop mundial e ser tão conhecido quanto uma pirâmide do Egito! Temos muito a aprender com ele.

Texto por Dojival Filho

No cenário cinzento da Inglaterra de meados dos anos 1950, o jovem James Paul McCartney, de 14 anos, recebeu a notícia da morte da mãe, em consequência de um câncer de mama, com um misto de choque, pesar e franqueza que marcaria sua vida para sempre. Além de bastante carinhosa e protetora em relação ao garoto e seu irmão, Michael, cerca de um ano e meio mais novo, a parteira Mary representava um porto seguro para os meninos e o marido, Jim McCartney, inclusive no aspecto financeiro.

Eram tempos bicudos, em que a pobreza e a luta pela sobrevivência faziam parte da rotina daquela família de Liverpool, cidade da região noroeste do País que ainda se recuperava dos ataques aéreos praticados pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Por conta disso, uma das reações do adolescente foi perguntar, de maneira instintiva e imprudente, típica de garotos sob forte pressão: “Como nós vamos fazer sem o dinheiro dela?”

Foto: Reprodução

Desde então, Paul já se arrependeu muitas vezes por ter reagido assim. Amava profundamente a mãe, que o inspirou a compor Let it Be, uma das mais famosas, delicadas e agridoces canções dos Beatles. Escrita em 1969, quando a banda mais popular da história do rock estava em seus estertores, a música começa com o conforto de palavras de sabedoria ditas num sonho pela “Mãe Maria” a um filho angustiado.

Mas a pergunta feita por aquele menino que se tornou ícone da cultura pop mundial e o músico mais rico do Reino Unido, com fortuna estimada em cerca de £ 820 milhões, ajuda a compreender o contexto de muitas privações em que foi criado. Mais que isso: dá pistas sobre o longo e vitorioso caminho que percorreu.

Corta para 2019: segundo o ranking da Billboard, a recente passagem de McCartney pela América do Sul com a turnê Freshen Up, que incluiu apresentações no Chile, na Argentina e no Brasil, foi a segunda mais lucrativa do mês de março, com faturamento de US$ 17,8 milhões. Desse total, somente os dois shows que o cantor realizou no Allianz Parque, em São Paulo, renderam US$ 8,7 milhões.

Paul McCartney ao vivo no O2 Arena durante a turnê ‘Freshen Up’, dia 16 de dezembro de 2018 em Londres, Inglaterra. (Foto de Jim Dyson/Getty Images)

Outros US$ 3,7 milhões foram atribuídos ao show em Curitiba. O ranking não traz informações específicas sobre o lucro da apresentação no Estádio Nacional, no Chile. Lucro aqui, entende-se como a arrecadação total e não as cifras revertidas diretamente ao artista.

Ainda de acordo com a Billboard, em toda a carreira solo, o artista já arrecadou US$ 844 milhões e vendeu 7.581.843 ingressos. Vamos abrir aqui um parêntese: quando Paul lançou seu primeiro disco (McCartney) após a dissolução dos Beatles, em 1970, a utopia hippie ainda encantava a maior parte da juventude, o mundo enfrentava a permanente tensão da Guerra Fria e, para o cidadão comum, a internet não passaria de um delírio de ficção científica.

Quase cinco décadas depois, ele continua tão relevante no show business quanto sempre foi. Parte considerável dessa longevidade pode ser colocada na conta do enorme talento para criar melodias inesquecíveis, a inquietação artística que o acompanha desde os primeiros passos musicais, a paixão por entreter as plateias, o perfeccionismo e a ética de trabalho de Paul, workaholic assumido que continua esbanjando vigor em apresentações de quase três horas.

Aliás, a saborosa fórmula dos shows de Macca, apreciada mais uma vez pelos brasileiros na turnê Freshen Up, merece lugar de destaque em qualquer análise. Paul já disse que se coloca no lugar do fã na hora de criar o set list, abastecido por muitas obras-primas do quarteto britânico, como Blackbird, Eleanor Rigby e Helter Skelter, e de sua carreira solo, entre elas Maybe I’m Amazed e Band on the Run.

Acompanhado pela ótima banda de apoio, em que se destaca o tão virtuoso quanto carismático baterista Abe Laboriel Jr., o ex-beatle também pontua o espetáculo com amostras de seu álbum mais recente, Egypt Station (2018). O lançamento foi impulsionado por esperta campanha publicitária, que incluiu a produção exclusiva para o Spotify de um disco gravado ao vivo no legendário Abbey Road Studios. No repertório, clássicos e canções mais recentes, como a ultrapop Fuh You, feita sob medida para avós, pais, eu, você, millennials e todo mundo cantar junto.

Paul McCartney e Jimmy Fallon surpreendem fãs em brincadeira do elevador

A maratona de marketing inteligente contou ainda com outras sacadas do veterano, entre elas a edição especial do bilhete do metrô de Nova York alusiva ao Egypt Station e participações memoráveis em programas como o talk show de Jimmy Fallon e Carpool Karaoke, de James Corden. Esse último já foi visualizado no YouTube por mais de 40 milhões de usuários, que se encantaram com as imagens de Paul relembrando antigos sucessos enquanto passeava de carro por lugares mágicos de sua terra natal, eternizados em canções como Penny Lane. Não por acaso, Egypt Station rendeu a McCartney o primeiro lugar no topo da lista da Billboard em 36 anos.

Paul McCartney no ‘Carpool Karaoke’ de James Corden

Sem abrir mão do frescor das novidades, Paul entrega nos shows, recentemente turbinados pelo competente trio de metais Hot City Horns, exatamente o que seu heterogêneo público deseja: um irresistível parque de diversões com atrativos para toda a família. Cada fã é convidado a uma celebração completa, ao mesmo tempo íntima e coletiva, em que é colocado diante de um sujeito cuja história representa um dos maiores símbolos culturais do século 20. Suspeito que a sensação deve ser semelhante a que experimenta um historiador fanático pelas antigas civilizações diante de uma pirâmide no Egito.

Um dos aspectos mais importantes da magia de McCartney reside exatamente no diálogo de gerações, na relação harmoniosa entre a tradição do melhor que o pop já produziu e a urgência da comunicação na era das redes sociais. Entre o sir de 76 anos e o jovem que tocava horas intermináveis nos inferninhos de Hamburgo no início da trajetória dos fab four.

Paul McCartney ao vivo em Nova York, comemorando o lançamento do álbum ‘Egypt Station’

Ele foi o último beatle a jogar a toalha e desistir das turnês do grupo, em 1966. Era aquele que passava horas acertando detalhes de Sgt.Pepper’s, álbum que nasceu de uma ideia sua e deve muito à liderança de Macca. O trabalhador incansável que, já separado de John, George e Ringo, não hesitou em começar tudo novamente, tocando no circuito de universidades com o Wings, outra banda que colecionou hit singles ao longo dos anos 1970.

Por tudo isso, a força e a beleza da obra de Paul McCartney superou a dor, o ressentimento, o vazio, a morte e algo mais poderoso que tudo isso: o tempo. É a prova incontestável de que, “no final, o amor que você recebe é igual ao amor que você deu.”

E aí, o que você observa na carreira do nosso Macca que é possível moldar e aplicar desde já na sua carreira solo ou da sua banda? Quer trocar uma ideia de como aplicar ferramentas da comunicação para a música e melhorar o alcance do seu disco, clipe e shows? Esperamos seu alô em contato@agencia1a1.com.br.

2 comentários em “Paul McCartney: o que o Beatle pode ensinar sobre music business?

  1. Gabriel Cardoso Responder

    Texto claro e preciso, realmente escrito por uma pessoa que entende quando o assunto é Beatlemania!

    Que venham próximos tão bons ou melhores quanto!

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