Rush: a bem sucedida viagem de 40 anos pelo music business de Neil Peart com a “menor orquestra do mundo”

Neil Peart (Foto: Divulgação)

Texto por: Isis Mastromano Correia e Diego Armando de Souza

Em tempos em que há um movimento inquisitório quase mundial contra os intelectuais, perder Neil Peart (1952-2020), o ícone-monstro por trás das baquetas do Rush, também significa o apagamento de uma mente brilhante. Fã de literatura, devorador contumaz de livros (com muitas, muitas palavras, diga-se!), também deu seus pulos e publicou os próprios títulos. Com Geddy Lee e Alex Lifeson, criou “a menor orquestra sinfônica do mundo”, como o Rush era apelidado, e só aí conseguiram um feito extraordinário quando se fala em gestão de pessoas: permaneceram juntos por 43 anos fazendo música.

Daqui do mundo do music business, não há como fugir da necessidade de hoje falarmos das ações empreendidas pelo Rush e que os alçou como uma das bandas mais bem sucedidas da história, laureados no Rock and Roll Hall of Fame (2013) com um dos não-discursos mais emblemáticos, e por isso irônico e crítico, da história da premiação que você pode relembrar ou conhecer aqui. Apenas mais uma sacada de gênios. Com os pais – isso mesmo – encorajados na plateia numa época em que os três já eram senhores respeitáveis.

Uma mini-orquestra chamada Rush! (Foto: Divulgação)

É sempre delicado dizer que essa ou aquela banda detém o posto de inventora de algo, mas é possível associar tranquilamente o Rush e o Neil ao fenômeno e surgimento de toda uma linhagem de músicos de rock que deixou de lado uma espécie de desleixo ou descompromisso sonoro que ronda o rock (e tudo bem com isso), e colocou no lugar técnica apurada e virtuosismo que foi dando crias até a era moderna com o tal do prog metal e algumas vertentes mais.

10 vezes que Neil Peart foi o melhor baterista do mundo (Loudwire)

Rush entendeu muito bem a tradução da palavra show utilizando cenários épicos e levando performances fenomenais de horas para plateias que ali eram arrancadas do mundo real e convidadas a ingressar naquela magia. Herança que aprenderam durante uma tour com o Kiss. E se eles aprenderam, a gente também aprende que é sempre possível adaptar a realidade de nossas bandas diante dessas histórias de sucesso.

O trio sempre foi grande por trafegar pela boa música, seguindo tendências musicais, sem perder a identidade e, para realizar a entrega dessa boa música, tinham uma estratégica que muitas bandas acabaram trazendo para si, a de lançar uma série de discos de estúdio (quatro) e um ao vivo na sequência para marcar a época. Era assim o ciclo deles e eles tinham tudo sob controle (algo que batemos muito na tecla das bandas que estão começando ou até nas que já tem tempo de estrada e sequer tem acesso, por exemplo, às senhas de e-mails!).

Neil Peart Drum Solo – ‘Tour Snakes & Arrows’ (Rush)

Desde o começo da banda, sempre tiveram o mesmo empresário e quase todos os técnicos da primeira tour seguiram com eles até o final. Criaram a mescla ideal de empresa e lealdade entre equipe.

Tabu no rock and roll, os Rush sempre se cuidaram com relação a álcool e drogas ilícitas comprometidos e preocupados em fazer ótimos shows e dar o melhor de si. Tanto que ficaram mais de quatro décadas tocando em alto nível, fazendo música complicada de ser tocada, que exige muito do corpo e mente.

Rush R30 Tour

Peart teve uma biografia pessoal interessantíssima, uma vida movimentada, marcada por acontecimentos que quase o tiraram da música, histórias de fácil acesso na internet para quem quiser se aprofundar. Mas a tal da resiliência, palavra da moda, parece que foi mais um dos talentos desse cara incrível que mudou em definitivo a história da bateria e que agora vai morar ‘closer to the heart’ dos que tocando e inspirados por ele.

Neil Peart, baterista do Rush.
Descanse em Paz, Neil Peart. (Foto: Fin Costello/Redferns/Getty Images)

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