Lari Basilio: music, business e muito mais

Uma das maiores guitarristas da atualidade conversou com a Agência 1a1 em sua passagem pelo Brasil para o lançamento de seu novo disco, Far More. Lari Basilio fala da vida de musicista nos Estados Unidos, do processo de gravação do álbum que conta com monstros da canção mundial e um pouco das táticas de comunicação em sua carreira

A guitarrista Lari Basilio. (Foto: Juarez Rodrigues)

Dia desses, o Bruno Teixeira, que é o diretor de novos negócios e gerente de contas aqui da Agência 1a1, veio louco para falar comigo bem no pique “para tudo e vá escutar o disco novo da Lari Basilio!”. Eu fui fazer o que ele pediu. Que bom! Semanas depois, em 13 de setembro último, estávamos com a própria Lari, no Conservatório Souza Lima, em São Paulo, para o workshow de lançamento do álbum no Brasil e para entrevistá-la. Confira a entrevista em nosso canal no YouTube.

Lari Basilio: guitarra, G3 feminino, Far More e music business

Eu poderia dizer que a Lari é uma das mais promissoras guitarristas brasileiras da atualidade, só que isso seria mentira. A Lari não é uma promessa faz tempo: ela é realidade. Lari é a materialização consolidada de quando a gente pensa na imagem do músico bem sucedido.

Lari Basilio deixou Guarulhos, em São Paulo, em 2017 para viver o seu California Dreamin’ particular na meca dos negócios da música na terra do Tio Sam, o que tem rendido alguns “Lari Brasil” perdidos por lá quando os gringos falam com nossa prata da casa. “Eles admiram muito sermos músicos brasileiros, sabem que se a pessoa é do Brasil, tem um algo a mais com a música”, ela conta.

Vinnie Colaiuta, Nathan East, Lari Basílio e Greg Phillinganes, durante as gravações de Far More no Capitol Studios. (Foto: Divulgação)

A esteira de Mateus Asato, Lucas Taffo, Kiko Loureiro e cia, Lari foi mais uma dos nossos grandes talentos das seis cordas que embarcou na rota migratória de excelentes guitarristas de que temos notícias e que começaram a fazer uma nova história da guitarra brasileira pelo mundo baseados nos Estados Unidos.

Como toda a gente, estão honestamente em busca de melhores colocações profissionais e oportunidade de estudo e crescimento a despeito de quem ainda se enrosca na crença limitante de que arte e finanças são como água no óleo. Lari ajuda a encabeçar essa turma que entende a importância do ‘business’ sem abrir mão do ‘music’.

A capa do disco Far More.

A guitarrista é um dos casos mais inspiradores para quem acompanha os movimentos do music business e por isso aproveitamos sua passagem pelo Brasil para bater um papo e falar de suas boas práticas de comunicação para a música (afinal, esse é o nosso trabalho na 1a1!). Eu explico: desde que apareceu para o grande público em concursos culturais apoiados por marcas do setor musical, Lari já tinha fotos promocionais impecáveis, site, press releases, um modo legal de se expressar, e isso sempre chamou atenção de quem se liga no bastidor da coisa.

A comunicação estava pronta, a maneira de se comportar publicamente também. Os concursos foram canais que precederam aquilo que ela já tinha preparado para mostrar de antemão. Não se tratava de apenas jogar dados com a sorte, de ter o talento reconhecido e torcer para aquilo dar em algo. Havia objetivo por trás. Vou dar um exemplo que ilustra onde eu quero chegar. Quando você assiste um programa a la The Voice é comum que excelentes candidatos escutem dos jurados “você está pronto!”. É isso: Lari tratou de “aprontar a casa para quando as visitas chegassem”.

Lari Basilio na Seymour Duncan, um dos seus patrocinadores. (Foto: Christopher O’hara)

Me sinto falando algo que acho que todo mundo já sabe, mas, vamos lá: deixou de ser verdade aquela coisa do artista que é descoberto por um investidor (gravadora, empresa) que se dispõe a pegar o artista pela mão e formatá-lo. Pelo contrário, a busca é por quem já tem um formato bacana para oferecer. Assim como um candidato a qualquer vaga de emprego precisa mostrar na entrevista todos os seus predicados e como aquilo o diferencia dos demais, na dinâmica das relações do mercado musical não é nada diferente.

Lari conta com uma equipe que a ajuda a manter um exímio trabalho de comunicação e explica à Agência 1a1 que trabalhar os conteúdos da carreira na internet é fundamental para ela. “É preciso fazer um trabalho bom e forte na internet. Para mim é o primeiro passo e foi primordial, sem dúvida”, diz.

Muito mais

Um salto no tempo e espaço e, dos primeiros concursos culturais que catapultaram Lari Basilio ao público, passando por seu excelente EP de estreia autointitulado (2012) e o CD ‘The Sound of My Room’ (2015) que já mostravam que a menina não estava para brincadeira, chegamos a era Far More, álbum novo que a guitarrista acaba de lançar.

Walking by Faith, do ‘EP Lari Basilio’ (2015)

Far More é um chacoalhão na gente, é um gol do Brasil, não sei, é bem difícil explicar o que esse disco causa na gente. Tudo nele é ousado demais e não-convencional: álbum 100% instrumental, comandado por uma mulher na guitarra (um dia essa informação não mais precisará ser destacada) e que traz consigo Vinnie Colaiuta na bateria, Nathan East, no baixo e Greg Phillinganes no teclado. Falar da biografia desses caras me tomaria um texto todo, mas afirmo que tocaram praticamente com qualquer artista popular do século 20 que você chutar.

Not Alone, de Far More (2019)

Lari alcança o que poucos guitarristas instrumentais conseguem e apresenta um disco muito longe de ser enfadonho como podem pensar os detratores da música instrumental. Ela consegue o mesmo resultado cativante que consagrou grandes caras da música sem vozes, como Joe Satriani, que, aliás, participa da faixa ‘Glimpse of Light’ que abre o disco Far More. Só.

A relação de Lari com Satriani tem suas raízes em termos de inspiração e de prática: ela foi a única mulher escolhida por ele para ministrar atividades e aulas no G4 Experience de 2019, o evento de imersão de guitarra promovido por Joe todos os anos em Palm Springs, na Califórnia, e que arrebanha centenas de participantes do mundo todo.

Lari Basílio foi convidada por Joe Satriani para ministrar atividades no G4. Experience 2019 (Foto: Divulgação)

Glimpse of Light, de Far More


Michael Jackson

Michael Jackson e Jennifer Batten (Foto: Divulgação)

O Rei do Pop inegavelmente foi um dos responsáveis por abrir as portas para a aparição de diversos talentos femininos da guitarra sobre o palco como Jennifer Batten e Orianthi. Se há pelo menos meia década passou a ser mais comum encararmos a figura feminina atrás das seis cordas, o astro teve seu quinhão de responsabilidade nisso.

A guitarrista Orianthi Panagaris. (Foto: Divulgação)

Lari Basilio foi guitarrista do espetáculo Tributo ao Rei do Pop, assinado pelo artista Rodrigo Teaser, um pouco antes de se mudar para os EUA, o que rendeu aparições na grande mídia e um séquito de fãs que a conheceu por isso. A história poderia terminar aí até nos darmos conta de que Lari conseguiu colocar para dentro do lendário Capitol Studios para gravar o seu Far More simplesmente o time leal de Michael que gravou grandes trabalhos do ícone. Uma coincidência, contou Lari à 1a1.

Lari Basílio e Rodrigo Teaser no show “Tributo ao Rei do-Pop”. (Foto: Virgínia Nunez)

“Vinnie Colaiuta, que é amigo de todos eles, já me seguia no Instagram e partir dele vieram os outros”, conta a guitarrista. De “brinde” Siedah Garrett, uma das compositoras de um dos maiores hits de Michael, ‘Man in the Mirror’, regravou a canção que em Far More conta com novo arranjo criado por Lari e uma frase especial em português que arremata a faixa, decisão da própria Siedah. Isso tudo ajuda a costurar a história da grandiosidade desse disco da nossa brasileira fã de telecasters mas que não dispensa uma boa e clássica strato!

Lari Basilio – Man In The Mirror feat. Siedah Garrett/Greg Phillinganes/Vinnie Colaiuta/Nathan East

Técnica intuitiva

“Eu só ensinei dois acordes, todo o restante ela fez sozinha”. E quem duvida da brincadeira de autoria do pai de Lari Basilio ao vê-la absolutamente a vontade em cima do palco, empunhando sua guitarra, sorrindo, palhetando quando o manual de etiqueta do instrumento pede para dedilhar, dedilhando quando se “deve” palhetar? Quando ela explica que as composições podem muito bem surgir de estudos despretensiosos no quarto, a gente acredita. Dá para ver que é assim mesmo: técnica, sim, mas recheada de sentimento que não deixa a música deixar de ser o que é: música.

Lari Basilio – The Making of “Far More” [Legendado Português]

Lari sempre foi incentivada musicalmente pelos pais e contava com professores particulares. Começou a estudar órgão aos 4 anos de idade. Dali até os 12 foi o instrumento que a ajudou também a aprender teoria. Até a revolucionária chegada da guitarra. A embrionária carreira de advogada, com credencial da OAB e tudo, ficou para trás e hoje o Direto ajuda a destrinchar contratos na música. “A música é a forma de me expressar”, diz Lari.

Clã Basilio

Os mais assíduos frequentadores dos eventos de música, como a finada ExpoMusic, e workshops de guitarra já sabiam que Lari divide o talento nas 6 cordas com o irmão Joe Basilio que fez as honras da casa no Souza Lima abrindo o workshow e apresentando seu próprio disco recém lançado, Excelsis. Álbum também instrumental. Também primoroso. Os Basilios são corajosos em investir na música sem letras que, como explicou Lari, não angaria a mesma apreciação no Brasil como tem no exterior que nos dá provas absolutas disso com o sucesso de Steve Vai e Satriani, por exemplo.

Joe e Lari Basilio

“Mesmo a música sem palavras, como é a minha, toca e muda a vida das pessoas”, diz Lari. E esse alcance é duplo, atinge camadas imateriais mas também alcança patamares práticos de representatividade: Lari conta ficar feliz ao saber que inspira meninas a tocar guitarra. Pergunto à ela quem é o G3 feminino e, que bom, juntas chegamos à conclusão que é impossível apenas um trio de mulheres maravilhosas na guitarra. Há cerca de meia década a lista seria rala. Não que elas não existissem, muito longe disso, mas, faltava o mundo jogar a necessária luz à essas gurias incríveis, como Lari Basilio.

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